Sobre o Chuva Peregrina

Aqui estamos nós a peregrinar pelos lugares da palavra; estes lugares de desvão como em incompletude de expectativas, dessa linguagem que nos rodeia a pedir que caminhemos e paremos por experiências de receber a palavra, esse fragmento como mote de existir, posto que só somos por elas, as palavras vertidas em chuva mansa, em chuva tempestade, em chuva que virá...E se peregrinamos tanto é por buscar esse sentido escondido e até escancarado, que por assim ser tão à mostra, inibe-nos por demais e faltam as palavras. E se chovemos assim por lástima e emoção é na ânsia de viver e dizer sobre o que somos em pensamento ação, ainda que tantos lugares da alma sejam reféns da própria história, que não nega valores escusos, vontades imprecisas e também libertadoras do dizer, que todo dito é a verdadeira alma humana, pelo corpo e pelo som. Queremos sim chover em tantos lugares feito peregrinos, com cajados tortos ou bem alinhados sob a chuva e sob o sol a evaporar rios, lagos e mares pra chover incessantes por aquilo que somos e não somos. E essas chuvas de peregrinos são nossos suores, nossas lágrimas e quaisquer secreções de gozo, fisiologias involuntárias, efeitos da natureza em razão. Por isso, permitam-nos sermos natureza de dizer sem fórmulas exatas, como uma surpresa e um encanto, um susto de descobrir o que não planejamos. Permitam-nos também ser o plano pelo tema em proposição, mas em transgressão, em forma de refutação e sofrimento por não achar lógica perfeita. Quem chove peregrino é imperfeito no dizer, é antes um brincar para querer dizer e aguçar quaisquer ouvidos de lugares ermos e intransitáveis. Quem chove peregrino é simples no sentir e possui tal grau de complexidade, que só pelo simples pode existir, pela palavra enfim, sem fim utilitário, embora ousada e excitante, carente de fazer pensar, e fazer agir pela linguagem nossa e não sua, pela linguagem nossa. (Por Keila Costa)